UMA AULA DO PROJETO " PRO DIA NASCER FELIZ "

          Em nossas aulas temos como viga mestra o Tai Chi. Mas aproveitamos também outras técnicas de movimentação que se orientam pelos mesmos princípios, buscando sempre uma integração maior a nível pessoal, social, cósmico, enfim, integral. Objetivamos a Harmonia em seu sentido mais amplo. Assim, costumamos chamar o Tai Chi de "A Arte de Viver", pois pelo que vimos acima ele busca a união, o encontro, e já dizia o poeta : " A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".


          Fazemos , então, nas manhãs (as 07:00h) no Jardim São Benedito, o encontro do Tai Chi com algumas outras artes para a saúde, como a yogaterapia, o liang-gong, a dança dos cinco animais, o chi kun, o Tai Chi Pai Lin, bioenergética e cinesiologia.

          A AULA

          Usamos a forma do círculo pelo menos no início e no final da aula. O círculo representa a harmonia, a continuidade, a ausência de um início ou fim determinado, a solidariedade, a grande união. Em círculo, respiramos naturalmente algumas vezes e passamos para a respiração do "OM". Começamos e terminamos a aula com essa respiração silábica por ela representar uma sílaba universal com incríveis efeitos terapêuticos já comprovados cientificamente. Nas mais diversas línguas, quando abrimos a boca o som que sai e o "A". Quando fechamos os lábios vem naturalmente o som de "Um". A sílaba OM é escrita AUM e é portanto uma expressão sonora universal, que transcende as línguas, as culturas, as barreiras. O som brota no interior ( por isso colocamos as mãos sobre o peito, ou sobre a barriga, para sentirmos a vibração que acontece em todo o corpo) e vai subindo, na proporção que o ar vais sendo expirado até se tornar labial. Faz-nos lembrar que antes de algo se manifestar ele brota no interior, que o consciente é uma percepção do que está em nosso inconsciente, o visível vem do invisível, que a matéria vem da energia.

          O "Om" é um som circular e nos lembra da continuidade, simboliza a integridade e unidade dos opostos. No livro "A Força Curativa da Respiração", Marieta Hill conhecida professora de yoga alemã - dá as seguintes indicações para respiração do "Om" :

 

* Concentração;
* Depressão;
* Medo;

* Fortalecimento do Sistema Nervoso

* Proteção Espiritual;

* Aumento de Vitalidade.


          Ademais, cantamos o "Om" como um agradecimento a Deus pelo dia que se inicia e pela dádiva de estarmos vivos e abertos ao Amor.

          Cumprimentamos, olhando nos olhos de cada um e passamos então para os exercícios de flexibilização, alongamento e soltura das articulações, onde soltamos o pescoço, ombros, braços, punhos, coluna, quadril, joelhos e pés. É interessante estarmos atentos desde o início, observando onde sentimos mais dor, mais tensão, mais relaxamento, etc. Essa parte visa desbloquear o corpo para que o sangue e o "chi" possam fluir cada vez melhor. Costumamos fazer essa seção da aula com exercícios de liag-gong, ou as 18 terapias, como são conhecidos ( ex.: subir o braço de ferro, furar o céu, etc.).

          Em seguida, usamos algumas técnicas de Do-in, que é uma auto massagem terapêuticoenergética para ativar certos canais de energia e auxiliar o relaxamento e a concentração.

          Com o corpo mais solto e a mente mais concentrada passamos a fazer uma série de exercícios na base do cavalo (pernas paralelas, pés apontados para frente, joelhos levemente flexionados), ou na base do arqueiro (uma perna na frente e outra atrás, mantendo a distância natural entre elas onde alternamos o peso ora na frente, ora atrás), coordenando o movimento dos braços e pernas com a respiração. Essa fase é muito importante pois através da união do movimento com a respiração é que conseguimos despertar e trabalhar o "chi", e unir o corpo, a mente e a energia. Esses exercícios são conhecidos como Chi Kun que significa "o trabalho da energia, ou treino da energia". A palavra Kun em chinês significa "terra". Chi é a energia vital, muitas vezes também significa alimento. Portanto devemos estar receptivos como a terra para recebermos e cultivarmos a energia vital, o alimento. O Chi é uma ponte entre o corpo e a mente, entre a matéria e o espírito. Longa e saudável é a vida daquele que conhece o chi!

          Por fim, chegamos ao encadeamento, ou seqüência. Organizada em três momentos ou séries que simbolizam o Céu ( o ilimitado, a luz, o espírito), o Ser, e a Terra ( o limite, a sombra, a matéria). Como seres humanos nos encontramos - e nos encantamos - entre o Céu e a Terra e a tudo que essa idéia, essa simbologia, nos remete. O Tai Chi faz questão de sempre nos lembrar disso.

          As formas devem ser feitas de maneira tão espontânea como uma criança brincando, tão suave como um desenrolar de um fio de seda, tão fluida como um rio. Todo esforço desnecessário é evitado. Para isso é necessário treino e dedicação, bem como disciplina nas fases anteriores. Aprender o encadeamento necessita e ao mesmo tempo treina a paciência, a lentidão, a coordenação, a atenção, a memória, e o relaxamento, além de aumentar profundamente a vitalidade. Por estarmos nos movimentando lentamente, podemos estar mais atentos a todo e qualquer movimento do corpo e da mente, o que nos leva a um maior autoconhecimento. Segundo a estudiosa francesa Catherine Despeux, em seu histórico livro Tai Chi Chuan - Arte Marcial, Técnica de Longa Vida., "o encadeamento não é mais do que o suporte de um trabalho de profundidade sobre o corpo e o espírito".

          Ao final da aula voltamos ao seu começo, i.e., o círculo, vibramos o "Om", ouvimos nosso coração, espreguiçamos, sorrimos, fazemos um cumprimento onde a mão esquerda aberta se encontra com a direita fechada, representando mais uma vez a dualidade de yin/yang que se harmonizam e daí geram força e unidade. Todos se cumprimentam e depois trazemos as mãos ao tan tien ( centro energético onde concentramos nossa atenção durante a prática) simbolizando o retorno da energia à fonte e doamos, num gesto de abertura e de troca, agradecendo a todos os presentes ali, aos ausentes, a toda natureza, e a Deus.

          Mestre Wu, patriarca de nossa escola, costuma dizer que Tai Chi é uma prática que desenvolve a virtude que possuímos. Liu Pai Lin, mestre que veìo a falecer em 03 de fevereiro de 2000, com 94 anos e em plena atividade, dizia que "Tai Chi é uma prática para a longevidade e para o sentimento do amor". Quando deixamos de ser meros espectadores de vida e nos tornamos participantes ativos do viver, finalmente entramos no espírito do Tai Chi - A Arte de Viver.

 

Veja as fotos do 7º. Encontro da Primavera, ocorrido em Setembro/2001